Lays Ushirobira*
Em passagem pelos Estados Unidos, o cacique Raoni Metuktire reforçou sua mensagem por união global na luta pela Amazônia e pelo futuro da humanidade. O líder do povo Mebêngôkre (Kayapó) esteve em evento organizado pela Universidade Stanford em Palo Alto, Califórnia, na última terça-feira (24/09), que contou com exibição do minidocumentário “O chamado do cacique: herança, terra e futuro”, produção do projeto Amazoniar do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) em parceria com o Instituto Raoni.
“Vivemos num mundo só, respiramos o mesmo ar, bebemos da mesma água. Precisamos estar unidos nesta luta para acabar com os problemas que preocupam os espíritos da floresta: a destruição da natureza e o futuro da vida nesta terra. Precisamos caminhar juntos por um mundo onde possamos viver em harmonia”, disse.
“A luta dele [de Raoni] não é somente por ele, mas pelo mundo. Hoje, estamos aqui não como indivíduos, mas como mensageiros da floresta. A Amazônia está pedindo socorro e precisamos nos unir e lutar pela nossa causa comum: a nossa sobrevivência”, completou Beptuk Metuktire, jovem liderança do povo Mebêngôkre e coordenador no Instituto Raoni, em participação na mesa de discussão do evento.
O cacique Raoni também enfatizou a importância da demarcação de terras indígenas como uma das principais formas para frear a destruição da Amazônia. “Demarcando as terras, nós, povos indígenas, podemos protegê-las. Peço a todos para que apoiem na demarcação de terras indígenas. Para manter a floresta em pé, precisamos de apoio financeiro e de fortalecimento da fiscalização e do monitoramento territorial, para que não haja invasões e destruição”, disse.
Para Paulo Moutinho, pesquisador sênior do IPAM, a demarcação é um assunto de interesse global, pois é sinônimo de floresta conservada. “Temos na Amazônia um estoque de 100 bilhões de toneladas de carbono, o equivalente a quase 10 anos de emissões globais de carbono. São quase dois anos de emissões globais estocadas em terras indígenas da Amazônia”, explicou, durante participação no diálogo. “As terras indígenas são como um refrigerador gigante do planeta. A temperatura dentro dessas terras é de 2 a 4 graus Celsius mais baixa do que ao redor, onde não há floresta. São os povos indígenas que garantem as chuvas tão necessárias para a agricultura.”
O cientista ressaltou ainda que há soluções para a conservação da Amazônia, como os povos indígenas vêm mostrando, mas é preciso aumentar a vontade política. “Precisamos entender que é uma responsabilidade dos governos federal e estaduais, e que há vários diálogos importantes para acontecer no mundo também. No entanto, não existe vontade política suficiente. É por isso que a ciência e os povos indígenas são tão importantes e estamos trabalhando para mobilizar os formuladores de políticas públicas”, contou.
*Consultora de Comunicação do Amazoniar