Sinéia do Vale: a força da mulher indígena no debate climático

15 de abril de 2024 | Notícias, Um Grau e Meio

abr 15, 2024 | Notícias, Um Grau e Meio

por Sara R. Leal*

A história de Sinéia do Vale se entrelaça com a do CIR (Conselho Indígena de Roraima). Integrante do povo Wapichana da região Serra da Lua, em Roraima, ela começou a colaborar com o CIR aos 17 anos, quando o Conselho, agora com 53 anos, ainda estava se constituindo.

“Em Roraima há mais de 50 mil indígenas de dez povos. Ver muitas lideranças trabalhando nessa frente, buscando nossos direitos, demarcação de terras, direitos das mulheres indígenas, foi o que me motivou a participar”, afirma.

Atual coordenadora de gestão territorial e ambiental do CIR, Sinéia participou de diversas conquistas do Conselho. Além de sua própria estruturação e consolidação, contribuiu para assegurar maior presença de mulheres na organização e para um de seus maiores marcos: a demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol.

Quando as pessoas de sua região, na Serra da Lua, notaram que as mandiocas começavam a cozinhar dentro da terra, iniciou-se uma busca para entender o que estava acontecendo. Em meados de 2010, O CIR realizou um estudo para saber a percepção dos indígenas sobre os efeitos das mudanças climáticas em suas vidas – socialmente, culturalmente (a exemplo da medicina tradicional) e seus meios de subsistência (plantações, caça e pesca).

O resultado foi a construção de um plano de enfrentamento às mudanças climáticas que trouxe incidência em nível nacional: começaram a participar de reuniões, formações e discussões diversas sobre como os efeitos das mudanças climáticas estavam sendo tratados no Brasil. Foi durante uma dessas formações que se criou o CIMC (Comitê Indígena das Mudanças Climáticas), tendo Sinéia como representante da região Amazônica.

“Foi um momento bem importante para os povos indígenas pois passamos a ser conhecidos internacionalmente e participamos da COP como o único comitê indígena de mudanças climáticas”, recorda. Atualmente, o grupo faz parte da Câmara Técnica de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.

Para que povos originários estejam cada vez mais presentes nas discussões e decisões globais sobre clima e meio ambiente, o CIMC criou uma formação com metodologia acessível à essas populações.

Chamada de “português indígena”, a capacitação trata de temas como REDD+ (instrumento que visa recompensar financeiramente países em desenvolvimento por seus resultados relacionados à recuperação e conservação de suas florestas), crédito de carbono, mudanças climáticas, dentre outros.

Para Sinéia, é fundamental que os povos originários participem dessas discussões, principalmente porque eles são impactados diretamente pelos efeitos das mudanças climáticas. “Precisamos estar preparados para debater a nível regional, nacional e internacional, até porque já é sabido que o conhecimento originário faz parte da solução”, diz, que complementa que as informações da capacitação também evitam que as lideranças cedam a pressão de empresas que queiram fazer acordos sobre os territórios indígenas.

“Toda a minha luta na agenda climática se resume à questão do bem viver dos povos indígenas, da garantia pelo território e a garantia à vida – que não é só para os povos indígenas, mas para todos”, conclui.

 

*Coordenadora de comunicação do IPAM

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