“A educação pode ser um instrumento para combater a grilagem”

18 de janeiro de 2024 | Amazoniar (PT), Notícias

jan 18, 2024 | Amazoniar (PT), Notícias

Lays Ushirobira*

A educação pode ser um instrumento para combater a grilagem na Amazônia e, para isso, é preciso abordar desde o Ensino Básico a apropriação ilegal de terras públicas e seus impactos, segundo César Tenório, professor adjunto na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). “É preciso trazer esse tema para a sala de aula para que o aluno, desde jovem, possa ter contato com essas informações e desenvolver um senso crítico. A grilagem impacta a vida de todos nós. Esse conhecimento é urgente para ter os argumentos necessários para que a gente tenha um futuro melhor”, defendeu durante bate-papo promovido pelo Amazoniar.

“Quando chega no Ensino Superior, a gente percebe o pouco conhecimento que se tem sobre grilagem de terras e que se discute muito mais em cursos de Ciências Agrárias. Vivemos num mundo globalizado, em que precisamos de interdisciplinaridade e trazer para outras áreas de conhecimento. A gente precisa melhorar a matriz curricular, ter mais aulas práticas, levando o aluno para o campo. Precisamos fazer uma revolução na educação”, disse.

Com moderação de Alcilene Cardoso, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), o bate-papo foi uma iniciativa do Amazoniar para ampliar o diálogo com seu público depois do lançamento da série sobre grilagem. Veja outros destaques do encontro:

Conectando contextos rurais e urbanos

Embora a grilagem aconteça em zonas rurais, Tenório ressalta que o crime gera impactos negativos para todos e, portanto, é preciso união para buscar e implementar soluções. Para ele, a conexão com pessoas em zonas urbanas seria um grande passo para avançar no combate à grilagem e na redução do desmatamento.

“Não é porque estou no contexto urbano que não preciso me preocupar com a grilagem. A internet e a tecnologia nos ajudaram muito com isso. Muitas vezes não temos recursos para levar os alunos a campo, mas a tecnologia nos ajuda a promover intercâmbio, organizar uma oficina, onde possamos conectar a zona urbana com a rural”, comentou. “Parece que a grilagem está longe, mas na verdade isso afeta a todos nós. A gente tem que pensar no coletivo.”

Integração dos conhecimentos tradicionais e científicos

O professor destacou também a importância de integrar os conhecimentos tradicionais e científicos. “Fazemos pesquisa nas universidades, mas precisamos valorizar o conhecimento tradicional. A gente ensina, mas também precisa aprender [com as comunidades tradicionais da Amazônia]. Esses povos trazem muitos ensinamentos, até porque têm propriedade no que estão falando, sentem os impactos na pele”, explicou.

Estudantes como agentes de mudança

De acordo com Tenório, para que os estudantes sejam agentes de mudança, é essencial que as universidades abordem a grilagem de forma mais “contundente”. “O ensino precisa ser mais crítico, precisa tocar na ferida para a gente poder começar a pensar nessas soluções. A pesquisa precisa ser mais aplicada. Sobre a extensão, o aluno precisa estar lá [em campo], sair dos muros da universidade, absorver o conhecimento tradicional”, recomendou Tenório.

Combater a grilagem é responsabilidade de todos

Para Tenório e Cardoso, combater a grilagem não é simples, mas é possível e requer a participação de todos – governos, setor privado e sociedade civil. “É um trabalho a muitas mãos. A gente tende a achar que o problema tem que ser resolvido pelo governo e instituições federais, como o Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] e o Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária]. Precisamos urgentemente de uma parceria entre os governos federal, estaduais e municipais, mas também de uma maior participação da sociedade civil organizada”, defendeu Cardoso.

Sobre o Amazoniar

O Amazoniar é uma iniciativa do IPAM para promover um diálogo global sobre a Amazônia e sua importância para as relações do Brasil com o mundo. Nos ciclos anteriores, foram organizados diálogos sobre as relações comerciais entre Brasil e Europa; o papel dos povos indígenas no desenvolvimento sustentável da região e sua contribuição para a ciência e a cultura; e o engajamento da juventude pela floresta e seus povos nas eleições de 2022.

Com a proposta de levar a Amazônia para além de suas fronteiras, o Amazoniar já realizou projetos especiais, como um concurso de fotografia, cujas obras selecionadas foram expostas nas ruas de Glasgow, na Escócia, durante a COP 26; uma série de curtas que compôs a exposição “Fruturos – Amazônia do Amanhã”, do Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro; além das cartilhas Cenários possíveis para a Amazônia no contexto das eleições brasileiras de 2022 e Soluções para o desmatamento na Amazônia. A iniciativa também produziu um minidocumentário e uma série de entrevistas com representantes de comunidades tradicionais durante as negociações do Acordo de Livre Comércio entre Mercosul e União Europeia.

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*Jornalista e consultora de comunicação do IPAM



Este projeto está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

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