Vencedor do prêmio Desafio de Impacto Social Google 2016 e já usado por mais de 150 indígenas de povos diferentes para monitorar o impacto de focos de calor, desmatamento e risco de seca nas terras indígenas da Amazônia brasileira, o aplicativo Alerta Clima Indígena agora está disponível para download gratuito para usuários do sistema Android via Google Play.
Ane Alencar, diretora de ciência do IPAM, liderou a equipe do projeto e está concorrendo ao prêmio Veja-se, da revista Veja, como uma das personalidades mais inovadoras do Brasil, uma autêntica “agente de mudança na sociedade brasileira”, diz a revista. Saiba mais sobre a trajetória de Ane.
Entre as várias funcionalidades do aplicativo, é possível ter um histórico completo das ameaças climáticas das 380 terras indígenas da Amazônia, conhecer a realidade de cada uma e enviar alertas das ameaças identificadas.
“Quase todos os jovens indígenas hoje tem celular. Essa adesão à tecnologia nos permite engajá-los no processo de gestão territorial”, diz Ane Alencar. Ciente das dificuldades de acesso à internet em localidades mais remotas, a navegação via GPS feita online na cidade mais próxima, por exemplo, fica disponível para acesso off-line, assim como os alertas salvos. O aplicativo também tem outras funções importantes para o monitoramento do território feito pelos indígenas, que futuramente poderão ser enviados para uma base de dados e auxiliar no planejamento de ações locais.
Em um período prolongado de seca, as comunidades podem se prevenir melhor para a ocorrência de incêndios, por exemplo. Em 2016, houve 89 mil focos de incêndio na Amazônia, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). “Mesmo assim, não havia nenhum sistema de alerta para que os povos indígenas pudessem se preparar. Com o projeto, os agentes ambientais da Terra Indígena Arariboia, no Maranhão, foram os primeiros a testar o aplicativo, e estão recebendo informações frequentes sobre o risco de fogo”, afirma a coordenadora do núcleo indígena do IPAM, Fernanda Bortolotto.
“Precisamos juntar o nosso conhecimento com a tecnologia de vocês para combater os impactos e manter nossas terras, fundamentais para a sobrevivência do nosso povo. Nosso conhecimento ancestral de gestão tradicional já não basta, precisamos de novas ferramentas. Por isso, contamos com o apoio do IPAM nas capacitações e o aplicativo para nos auxiliar a enfrentar as mudanças do clima”, diz Paxton Metuktire, do povo Kayapó, da Terra Indígena Capoto Jarina, localizada no Mato Grosso.
O IPAM tem trabalhado em conjunto com os povos indígenas nos últimos anos, o que inclui atividades de formação que reuniram mais de 30 lideranças indígenas de localidades diversas da Amazônia, como Mato Grosso, Maranhão, Acre, Roraima, Rondônia e outros, até o apoio ao estabelecimento do Comitê Indígena de Mudanças Climáticas (CIMC), a participação de destaque nas COP 21, em Paris, 22, em Marrakech, 23, em Bonn e o desenvolvimento do SOMAI – Sistema de Observação e Monitoramento da Amazônia Indígena, plataforma do qual o aplicativo é um desdobramento.