RONDÔNIA Experiências positivas são sempre um estímulo para aqueles que ainda não se encontraram. Quando se trata de conservação do meio ambiente, estas também provocam um efeito multiplicador no caminho do desenvolvimento sustentável. Com este pensamento, a equipe do IPAM convidou agricultores da cidade de Feijó, no Acre, para visitar a sede da Associação dos Pequenos Agrosilvicultores do Projeto RECA – Reflorestamento Econômico Consorciado e Adensado -, no município de Nova Califórnia, em Rondônia. O que os dois grupos têm em comum? O trabalho de cultivo em terras localizadas no entorno da BR-364.
A idéia surgiu em junho deste ano, durante a realização do projeto Trem de Intercâmbio de Conhecimento. Durante a expedição organizada pelo IPAM do Acre, foi discutido que seria importante que as populações afetadas pela chegada do asfalto, no trecho acreano da rodovia federal, conhecessem alternativas sustentáveis de desenvolvimento econômico ao longo da via. Os agricultores associados ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Feijó decidiram então fazer as malas, e partiram pela BR-364 em busca do conhecimento e da troca de informação.
No encontro, realizado dia 20 deste mês, o técnico agropecuário Reginaldo Macedo explicou aos visitantes os detalhes do trabalho da cooperativa: Plantamos várias culturas, garantindo produção e renda o ano todo, e sem depredar o solo e o meio ambiente. Comercializamos o açaí, o palmito, a castanha, mas o nosso principal produto é o cupuaçu. Na época de safra, chega cupuaçu aqui 24 horas por dia. Este ano já vendemos 120 mil quilos da fruta. Ano passado, foram 300 mil, escoados pela rodovia para atender, principalmente, o mercado do sudeste do Brasil, e a empresa de cosméticos Natura, maior compradora do cupuaçu do RECA atualmente.
Hamilton Condack, o gerente comercial do empreendimento e também associado, volta no tempo e conta que o RECA surgiu em 1989, quando idéias cooperativistas de migrantes do Sul se juntaram ao conhecimento tradicional dos povos extrativistas da Amazônia: Quando chegamos não conhecíamos nada sobre frutas da floresta. Eu não sabia o que era cupuaçu. Então, o conhecimento que o pessoal daqui tinha da seringa, da castanha, do açaí, foi muito importante para desenvolvermos um sistema de produção agroflorestal.
Os 14 produtores rurais de Feijó escutaram atentos a história de luta e sucesso dos homens que cuidam da floresta de alimentos, e começaram a planejar um futuro mais promissor: Hoje aprendemos uma grande lição. Não vamos mais trabalhar pensando para daqui 1, 2 anos, e sim para os nossos netos. Vou levar este conhecimento para colocar em prática em minha comunidade, conta o agricultor Benedito Wagner da Silva.
A presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Feijó, Rosa Maria de Souza, acredita que a troca de experiências proposta pelo IPAM gerará muitos frutos: Está dando ânimo para os produtores trabalharem outros cultivos, além do arroz, milho e feijão, e sem o uso do fogo. Agora sim estamos buscando alternativas para quando nossa BR sair termos uma produção para ser comercializada.
O momento mais marcante do encontro foi quando Hamilton fez um apelo emocionado ao seus visitantes: Vou dar um conselho de amigo, de coração, para vocês. Não se iludam quando os fazendeiros chegarem e quiserem comprar suas terras. Não vendam! Eu vi isso aqui em Rondônia. Quando o asfalto chegou os fazendeiros compraram quase tudo. Vocês viram que daqui até Rio Branco é só fazenda. É o que o asfalto vai levar para vocês. Cuidem-se! Quem vendeu terra aqui e foi embora está vivendo hoje nas periferias das cidades e se humilhando para ter um empreguinho. Está é a oportunidade de vocês valorizarem suas terras.
Depois de um dia intenso de debate, e da pelada RECA X Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Feijó em um fim de tarde ensolarado, foi feito um convite para os acreanos regressarem à Nova Califórnia em agosto para a comemoração de 21 anos do projeto dos agrosilvicultores de Rondônia.
À convite do IPAM, os agricultores de Feijó também tiveram um curso ministrado por técnicos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), em Rio Branco, o Projeto de Assentamento Humaitá no município de Porto Acre, e o Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre. A excursão fez parte das atividades promovidas pelo Consórcio MABE – Manejo Ambiental de Bacias e Estrada – , financiando pela USAID.