Bioma que abriga 8 das 12 regiões hidrográficas do Brasil, o Cerrado é central na preservação da água que abastece boa parte do país e tem papel decisivo em um contexto de crises hídricas mais e mais frequentes, enfrentando a pressão das mudanças climáticas e do desmatamento, que já consumiu mais de 50% da sua vegetação nativa.
Colocando o tema na mesa, o evento “O berço das águas do Brasil pede socorro” reuniu diversos especialistas na Câmara dos Deputados neste 11 de setembro, data em que se comemora o dia nacional do Cerrado.
O ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, reconheceu que o Cerrado pede socorro. Para ele, é preciso estimular o envolvimento da sociedade na preservação dos biomas. “É possível crescer sem aumentar a degradação, afinal sem o Cerrado não tem água e sem água não tem plantação”, lembrou.
No desafio de conciliar crescimento sustentável com desmatamento zero, as empresas têm um papel importante. “O Cerrado tem como um dos maiores gargalos o fato de ainda poder ser legalmente desmatado. É preciso que as áreas já desmatadas sejam mais bem utilizadas e o engajamento das empresas nessa cadeia é fundamental”, ponderou a diretora de ciência do IPAM, Ane Alencar.
A realidade vivida pelos povos tradicionais que enfrentam os problemas do desmatamento, do envenenamento, das queimadas, a secura dos rios e a violência no campo foi trazida por Maria do Socorro Teixeira Lima, coordenadora geral da Rede Cerrado e representante do Movimento das Quebradeiras de Coco Babaçu. “Eu sinto na pele essa falta de respeito com o Cerrado e com a população que lá vive todos os dias”, afirmou. A sobrevivência das comunidades tradicionais e demais povos do bioma, indispensáveis para a sua preservação, está em xeque, assim como o desenvolvimento econômico da região.
Mercedes Bustamante, professora da UnB e uma das principais pesquisadoras do Cerrado, chamou a atenção para os estoques de carbono que o bioma apresenta. “O Cerrado compõe cerca de 20% do território nacional, é a savana mais biodiversa do mundo. Porém, em 50 anos não teremos o dia nacional do Cerrado se o desmatamento continuar”, cravou.
Nesta terça, organizações ambientalistas também se uniram e lançaram o manifesto “Nas mãos do mercado, o futuro do Cerrado: é preciso interromper o desmatamento” em que elencam 15 argumentos que embasam os pedidos do manifesto, como o fato de que, se mantido o padrão de destruição do Cerrado observado entre 2003 e 2013, até 2050 serão extintas 480 espécies de plantas e mais 31-34% do Cerrado será perdido.
O evento “O berço das águas do Brasil pede socorro” foi realizado pela EcoCâmara em parceria com a Aliança Cerrado, Associação Alternativa Terrazul, CEMA-UnB, Cerratenses, Ecodata, Fundação Mais Cerrado, Instituto Sociedade, População e Natureza, ISPN e Movimento Cerrado Vivo.