O anúncio na semana passada pelo governo da Noruega de que cortaria uma parte dos recursos que doa para o Fundo Amazônia não pegou o setor ambientalista de surpresa. Quem acompanha as flutuações do desmatamento da Amazônia sabe que, sendo o valor do repasse um reflexo direto da capacidade de o Brasil controlar a derrubada, a decisão seria tomada mais cedo ou mais tarde, mas ainda neste ano.
Isso porque, de acordo com as últimas medições do próprio governo, a taxa de desmatamento cresceu quase 30%. Entre agosto de 2015 e julho de 2016, perdeu-se cerca de 8 mil quilômetros quadrados de floresta.
A situação é preocupante independente do prisma usado para analisá-la. É a maior alta dos últimos anos, após um esforço nacional hercúleo de se reduzir o desmate. Coloca-se em risco a capacidade de o país cumprir acordos internacionais de clima. Traz risco climático à própria produção no campo. Põe em xeque investimentos voltados a práticas sustentáveis. Faz mercados baseados em cadeias livres de desmatamento olharem com dúvidas para nossos produtos.
Mas, acima de tudo, a alta do desmatamento mostra que, a despeito do partido ou inclinação política que ocupa a Presidência, esse é um desafio que precisa ser tratado com prioridade para ser debelado – o que não tem acontecido.
Este não é campo para selvagerias partidárias. Cuidar das florestas, tratar bem o solo do país e respeitar acordos são, ou deveriam ser, uma questão nacional. Trata-se, em última instância, de um bem comum a todos os brasileiros, independente de sua ascendência, credo, posição social ou ideologia. Qualquer debate fora dessa esfera é infrutífero.
Precisamos, enquanto sociedade, manter os planos de combate ao desmatamento em alta em nossas consciências e preocupações. Turbilhões políticos e econômicos não ajudam neste intuito, mas em tais momentos as informações qualificadas e o debate sério servem como farol entre mares revoltos.
O IPAM, organização de pesquisa não governamental, apartidária e sem fins lucrativos, acredita e trabalha baseado em argumentos científicos, para que a Amazônia livre-se totalmente do desmatamento e que, dessa forma, o Brasil tenha condições de se posicionar como líder mundial de um novo tempo, em que os recursos naturais são considerados ativos e sua conservação, elemento fundamental do desenvolvimento.