O IPAM liderou na semana passada pesquisas de queima controlada em áreas de floresta na Fazenda Tanguro, em Querência (MT), na região do Alto Xingu. O estudo acontece desde 2004 e tem como objetivo entender os impactos do fogo na degradação de florestas tropicais.
O experimento reuniu pesquisadores e estudantes de diversas instituições, como Woods Hole Research Center (WHRC), Instituto Max Planck, Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), Universidade Federal de Goiás (UFG) e Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Os participantes fizeram medições antes, durante e depois do experimento. Antes do fogo se mediu a serrapilheira (matéria morta no chão, como folhas secas) e umidade de cada parcela que seria queimada. Durante as queimas foram medidos os dados de intensidade do fogo: altura, largura e comprimento das chamas, além da taxa de espalhamento (tempo gasto para percorrer 50 centímetros) e a velocidade do vento. No pós-fogo mapeou-se a área queimada, quantificando novamente a serrapilheira.
Neste ano, os pesquisadores também usaram outros equipamentos, como drones e LIDAR (aparelho que gera imagens 3D caracterizando a diversidade, a estrutura e a dinâmica das florestas). Os dados coletados manualmente e com a ajuda dessas ferramentas vão ajudar a equipe a entender com mais detalhes como a recorrência do fogo afeta a capacidade de regeneração da floresta.
O pesquisador Paulo Brando, ligado ao IPAM e ao WHRC, coordena o estudo e faz parte do projeto desde 2004. Para ele, essa linha de pesquisa é essencial para identificar e quantificar variáveis que controlam o comportamento do fogo em florestas da Amazônia.
“As queimas experimentais são importantes para entender como a floresta e as áreas convertidas em plantação serão afetadas pelas mudanças climáticas. Pesquisas indicam que eventos de seca extrema serão mais frequentes na Amazônia, e as florestas têm um papel fundamental na mitigação desses efeitos em escala regional e global”, afirmou o cientista.
Entenda a pesquisa
O estudo realizado na Fazenda Tanguro é o maior e o mais longo experimento com fogo controlado em florestas tropicais do mundo. Ele analisa as consequências da transformação da paisagem e a fragmentação do habitat. O desmatamento afeta o clima local, aumentando a temperatura da superfície e reduzindo a quantidade de água reciclada na atmosfera por florestas. O tempo fica mais seco, o que por sua vez aumenta a frequência, a intensidade e a extensão de incêndios florestais na região.
Os dados analisados até o momento permitem concluir que florestas de transição afetadas pelo fogo tornam-se suscetíveis à invasão de gramíneas. Elas dificultam a regeneração natural da vegetação e servem de combustível extra para novas queimadas. Além disso, a mortalidade de árvores e cipós aumenta 80% e 120%, respectivamente, em relação à área que nunca foi queimada.
Até o momento, o projeto gerou 13 teses de doutorado, 10 dissertações de mestrado e 37 artigos em revistas científicas.