Por Luacas Guaraldo*
A proteção da Amazônia e a destinação das Florestas Públicas Não Destinadas têm impacto direto em todos os setores da economia brasileira e deveriam ser foco de esforços multissetoriais. A análise é de Paulo Moutinho, pesquisador sênior do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), em evento realizado na Câmara dos Deputados, nesta terça-feira, 21.
“A proteção da Amazônia deveria ser também uma pauta da economia, da agricultura e da energia. Nenhum desses setores é viável sem a floresta. É essa a questão. O que está em jogo não é apenas a crise climática, mas também a segurança alimentar do planeta, os direitos humanos básicos e a saúde da população”, defendeu o pesquisador.
As Florestas Não Destinadas ocupam cerca de 50 milhões de hectares na Amazônia brasileira. Essas terras públicas, sob domínio estadual ou federal, ainda aguardam definição de uso, conforme previsto na Lei de Gestão de Florestas Públicas. Durante essa espera, tornaram-se alvo de grilagem, desmatamento e extração ilegal de madeira.
De acordo com estudos do IPAM, a crescente ocupação ilegal das FPNDs é hoje um dos principais vetores do desmatamento na Amazônia, concentrando 36,5% de toda a perda de vegetação nativa do bioma. No primeiro semestre de 2025, mais de 69 mil hectares foram desmatados nessas áreas, enquanto outros 32,7 milhões de hectares permanecem sob risco de grilagem.
“O desmatamento de florestas públicas é um ataque ao patrimônio brasileiro. É a mesma coisa que entrar no Congresso e depredar bens públicos. E isso ocorre anualmente, em uma escala astronômica, com efeitos planetários severos na mitigação das mudanças climáticas. Por isso precisamos dialogar com outros setores. Mesmo aqueles fora da agenda climática já percebem que algo está errado”, alertou Moutinho.
Carta à Nature
Em carta publicada na revista científica Nature no início da semana passada, Paulo Moutinho e André Guimarães, diretor executivo do IPAM, defendem a destinação de 50 milhões de hectares de terras públicas — uma área equivalente ao Estado da Bahia. A proteção dessas áreas seria suficiente para dobrar a extensão de florestas protegidas da Amazônia.
“Este pode ser o maior legado do Brasil para a COP30, em Belém, e para além dela. Ao promover essa expansão da área protegida na região, o país terá feito a maior contribuição individual de uma nação ao combate da crise climática. Por lei, essas áreas de floresta já deveriam estar destinadas à conservação, mas os governos regionais têm adiado esse processo, deixando-as vulneráveis à grilagem, ao garimpo ilegal e aos incêndios florestais”, afirmam os pesquisadores.
Jornalista do IPAM, lucas.itaborahy@Ipam.org.br*


