Força e agricultura: mulheres que transformam a Amazônia

15 de outubro de 2025 | Notícias

out 15, 2025 | Notícias

Suellen Nunes*

A Amazônia é conhecida mundialmente por sua imensidão, biodiversidade única e importância vital que exerce para o equilíbrio climático do planeta. Mas, dentro dessa floresta, há histórias humanas que muitas vezes passam despercebidas, histórias de resistência, criatividade e dedicação que se entrelaçam com o próprio futuro da região.

Neste Dia Internacional da Mulher Rural, celebrado em 15 de outubro, o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) conta a trajetória de três mulheres que vivem e trabalham na Amazônia, mostrando como é possível unir agricultura, bioeconomia e preservação ambiental com empoderamento feminino.

Elas fazem parte de programas no Instituto que fortalecem a agricultura sustentável, a bioeconomia e o manejo consciente dos recursos naturais, promovendo autonomia econômica e valorizando saberes tradicionais.

Agricultura sustentável: cultivando o futuro da Amazônia

A agricultora Fabíola Morais Ogushi, liderança sindical em Tomé-Açu, aprendeu desde cedo a importância de cultivar respeitando a floresta. Com o apoio do projeto [nome do projeto]IPAM, passou a adotar técnicas de agrofloresta, combinando produção de alimentos com a preservação da biodiversidade local.

“Estou em transição, saindo do uso de agrotóxicos e migrando para o orgânico. Sei que não é fácil, nada muda do dia para a noite. Mas o projeto ajuda muito, principalmente nós, pequenos agricultores. Sem esse apoio, muitos já teriam deixado suas terras, pois está cada vez mais difícil continuar. Ano passado, com a crise provocada pelas mudanças climáticas, perdi pimenta e até açaí… este ano está melhor, mas ainda é instável”, conta.

Fabíola também enfrenta desafios pessoais que exigem resiliência diária. “Sou praticamente uma mulher solo, levo mais tempo para conseguir fazer o que preciso. Meu marido tem esquizofrenia, levamos quase dez anos para chegar ao diagnóstico e conseguir estabilizá-lo. Foi muita luta. Temos dias ruins, mas também temos dias bons, e assim vamos levando. Hoje, consigo dividir meu tempo entre cuidar dele, da família e do meu campo, onde cultivo açaí, cacau, mandioca, macaxeira, castanha-do-pará, piquiá e cumaru. Esse é o meu trabalho, o jeito que levo a minha história”, finaliza.

Biojoias e bioeconomia: quando a floresta inspira inovação e sustento

Maria Adriana Moraes atua na bioeconomia, transformando frutos e sementes da Amazônia em biojoias e outros artesanatos, unindo sustentabilidade e empreendedorismo.

“Nasci agricultora, não me tornei. Cresci ajudando meus pais na roça, plantando arroz, feijão, milho e maniva, e mais tarde me tornei professora: foram 37 anos de dedicação à educação. Tenho orgulho de ter contribuído com minha comunidade nas duas áreas. Hoje, aos 60 anos, continuo no campo, mas enfrentando grandes desafios. O êxodo rural cresce, os fazendeiros cercam nossas terras e o espaço para produzir diminui. Tenho minha reserva, que garante um clima melhor, mas não gera renda, e o agricultor precisa viver do que planta”, explica.

“Com o IPAM, muita coisa mudou na minha vida como agricultora. Aprendemos a planejar, diversificar o plantio e organizar nossas despesas; hoje sei quanto produzo e o que minha família consome. Antes plantávamos só milho, feijão e maniva; agora temos frutíferas, adubadeiras e até plantas de jardim. Essa experiência trouxe aprendizado e orgulho, mas também o desejo de seguir melhorando. Sonho em ter recursos para irrigar nossa área e garantir que as plantas sobrevivam”.

Maria enfatiza o desejo de continuar trabalhando na agricultura, mesmo após a aposentadoria. “Mais que tudo, quero continuar na terra e ver minha família e outras mulheres vivendo da agricultura com muito mais dignidade, conhecimento e amor pelo que fazem, porque é uma tarefa que traz felicidade. Produzo brincos, colares, pulseiras e enfeites reaproveitando o que a terra oferece, transformando o simples em arte. Faço tudo em pequena escala, por prazer, sem compromisso com o mercado. Gosto de participar de oficinas e ensinar o que sei, porque acredito que o conhecimento deve ser compartilhado. Meu trabalho é, acima de tudo, amor pela natureza e pela criação”, finalizou.

Casa de farinha e preservação cultural: tradição que resiste e alimenta a Amazônia

Ginelda Lima mantém a Quebec, uma casa de farinha tradicional na região amazônica, e trabalha para manter viva a cultura local.
“Minha relação com a Casa de Farinha Quebec remonta à minha infância. Cresci em uma família de agricultores que se dedicavam à produção de farinha de mandioca, e desde cedo me senti conectada a essa tradição. No entanto, as limitações de recursos e a falta de acesso à capacitação muitas vezes me impediram de explorar todo o potencial que eu sabia que poderia alcançar”.

Sua produção vai além do alimento: envolve conhecimento ancestral, técnicas tradicionais e práticas sustentáveis, reforçando a importância de transmitir saberes para as próximas gerações. A casa de farinha também se tornou um espaço de educação e troca de experiências, mostrando que a tradição e a sustentabilidade caminham lado a lado.

“A mulher que empreende transforma não só sua vida, mas a vida de outras pessoas: gera emprego e renda, faz a economia girar e inspira outras mulheres a se envolverem nos negócios. Por isso, é essencial mostrar a força e a presença da mulher agricultora no mercado, contar a trajetória de líderes que vieram antes de nós e provar que existem alternativas para mulheres fortes e decididas construírem seu caminho, mantendo sua identidade e seu amor pelo campo”, explica Ginelda.

Legado sustentável: preservando saberes e a natureza da Amazônia

Essas três mulheres não cultivam apenas alimentos, sementes ou produtos da floresta; elas cultivam futuro, conhecimento e oportunidades. Seus projetos mostram que é possível gerar renda, proteger a biodiversidade e inspirar comunidades inteiras, fortalecendo a igualdade de gênero e o protagonismo feminino na Amazônia.

O IPAM acredita que apoiar mulheres em programas de agricultura sustentável, bioeconomia e manejo de recursos naturais é essencial para a preservação da floresta e para o desenvolvimento socioeconômico da região. Suas histórias são exemplo de que a Amazônia é feita de pessoas que transformam, inovam e cuidam de seu território com responsabilidade e amor.

Neste Dia Internacional da Mulher Rural, as trajetórias de Fabíola, Maria Adriana e Ginelda nos lembram que a força feminina é essencial para que a Amazônia floresça de forma sustentável, gerando impactos positivos para o presente e para o futuro da região.

Analista de comunicação do IPAM*



Este projeto está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Saiba mais em brasil.un.org/pt-br/sdgs.

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