Por Maria Garcia
Em busca de um modelo de negócios que acelere o processo de transição da agricultura regenerativa no Brasil, o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), o Centro de Pesquisa Climática Woodwell e a FDC (Fundação Dom Cabral) promoveram, entre os dias 20 e 22 de agosto, um espaço de diálogos para definir o pontapé inicial.
O “Workshop de Construção do Índice de Agricultura Regenerativa Tropical” reuniu no campus da FDC, em São Paulo, representantes de diversos setores da sociedade, incluindo pesquisadores, setor privado e setor público. Como ato final, foi consolidado um fluxo de trabalho capaz de orientar o processo de construção de um índice, com base científica, para iniciar a criação de mecanismos de incentivos financeiros a produtores rurais adotantes de práticas da agricultura regenerativa.
Segundo Ludmila Rattis, pesquisadora do IPAM, do Woodwell e professora da FDC, os próximos passos envolvem oficinas que, para além das definições mais técnicas, discutam os arcabouços legais para contemplar esses produtores. “Esse foi um espaço para definirmos os indicadores e era necessário que o científico fosse a primeira discussão em pauta. Agora, precisamos saber como podemos incluir esses protocolos em termos de acesso às políticas públicas”, comentou.
Um conceito em construção
A agricultura regenerativa consiste em um conjunto de práticas agrícolas focadas na recuperação da saúde do solo, na biodiversidade e na mitigação das mudanças climáticas. Conforme explica Marcello Brito, diretor acadêmico da FDC, essas técnicas surgem como uma resposta direta ao modelo de produtividade empregado nos últimos 50 anos. “A revolução verde foi implementada em um mundo que sofria um déficit de produção alimentar e precisava de intensificação agrícola. Agora, ela deixou a sua marca e provocou uma degradação de mais ou menos 35% de todas as áreas de agricultura do mundo. Isso mostra um esgotamento do modelo atual e a necessidade de práticas regenerativas”, disse Brito.
Essa alternativa ao modelo agrícola em esgotamento envolve desde a gestão do solo, como o plantio direto, manejo de nitrogênio e redução de revolvimento, até uma nova perspectiva de cultivo que preze por uma relação mais integrada com a natureza – a exemplo da inclusão de corredores ecológicos ou da construção de sistemas que incorporem, em um mesmo espaço, áreas de floresta, lavoura e pecuária. O conjunto inclui práticas que podem ser aplicadas em atividades produtivas de pequena a larga escala.
Embora a agricultura regenerativa não possua um conceito específico ou ações prioritárias definidas para paisagens tropicais, um desafio lançado aos participantes do workshop para desenvolver, estudos científicos já apontam contribuições para a produção de alimentos no Brasil. Um exemplo é o benefício do uso de predadores naturais que reduzem populações de pragas e aumentam a produtividade, apresentado como uma das fundamentações teóricas do workshop.
De acordo com resultados preliminares da iniciativa GALO (Global Assessment from Local Observations), promovido pelo IPAM em parceria com o Woodwell, qualquer fragmento de floresta ou tipo de restauro, mesmo que produtivo e por meio do plantio de mudas, já contribui significativamente para a produtividade agrícola.
“O Brasil vem desenvolvendo essas práticas regenerativas, mas não tem sido o suficiente. Diante das mudanças climáticas e da prática intensiva da agricultura, existem certos indicadores do solo que estão se perdendo ao longo do tempo. Então, nós precisamos promover essa nova agricultura tropical brasileira que seja transformativa e mude paradigmas”, apontou Renata Miranda, pesquisadora do IICA (Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura), uma das correalizadoras do evento.