Jornalistas e criadores de conteúdo participaram de imersão sobre a dinâmica do fogo no Estado do Acre, promovida pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) em parceria com a UFAC (Universidade Federal do Acre), de 26 de junho a 1° de agosto.
Com o tema “Impacto do fogo em áreas protegidas, degradação em florestas e paisagens”, a atividade percorreu paisagens únicas da região, como as florestas de bambu e as campinaranas, tipos de vegetação amazônica que fogem à regra das imagens comumente difundidas quando o assunto é Amazônia.
O objetivo da imersão foi promover vivências de campo e trocas de experiência para contribuir com a qualidade da informação e da cobertura jornalística sobre o fogo na Amazônia.

Imersão discutiu dinâmica do fogo na Amazônia acreana (Foto: Bibiana Garrido/IPAM)
Além de pesquisadoras do IPAM e da UFAC, participaram cientistas do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) e do Centro de Pesquisa Climática Woodwell, dos Estados Unidos.
“O IPAM tem realizado imersões com profissionais da Comunicação há pelo menos dez anos. Especificamente sobre o fogo na Amazônia, já foram quatro edições. Vemos que há um benefício enorme na promoção do encontro de jornalistas e criadores de conteúdo com os temas que tratam diariamente, mas, por vezes, não têm a oportunidade de ver de perto”, diz Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM.
Ela acrescenta: “Escolhemos o Acre para abrigar esta imersão por conter características únicas de vegetação e, ao mesmo tempo, ser um exemplo de gestão do fogo com políticas integradas entre os diversos níveis de governança”.
A programação contou com visitas a áreas de floresta e vegetação nativa de diferentes tipos, também a propriedades rurais de agricultores que desenvolvem o cultivo sem uso do fogo. Além disso, jornalistas e criadores de conteúdo conheceram brigadistas do Prevfogo em Sena Madureira e representantes do CIGMA (Centro Integrado de Geoprocessamento e Monitoramento Ambiental), da Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Acre, em Rio Branco.
“Estamos respirando cerca de 10 vezes mais poluição nos últimos anos e o fogo tem entrado cada vez mais para dentro da floresta, piorando a qualidade do ar nas áreas naturais e nas cidades. Ecossistemas sensíveis, como as florestas de bambu e as campinaranas, sofrem muitas alterações depois da passagem do fogo, demorando a se recuperar. Por mais que sejam tipos de florestas pouco representadas, é importante lembrar que são muitas Amazônias dentro da Amazônia e devemos proteger todas elas”, diz Sonaira Souza da Silva, pesquisadora e professora da UFAC.

Diálogo com população local integrou imersão sobre impactos do fogo (Foto: Bibiana Garrido/IPAM)
O grupo ainda assistiu a palestras no campus da UFAC na capital e, em Cruzeiro do Sul, visitou áreas queimadas e se reuniu com lideranças indígenas e representantes da OPIRJ (Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá) na terra indígena Puyanawa.
“Ir ao Acre pela primeira vez foi uma experiência que me marcou muito. Conversar cara a cara com agricultores, indígenas, pesquisadores e representantes do governo me fez entender de um jeito muito mais real o que está em jogo na luta para manter a floresta em pé. Ver as diferentes Amazônias, entender as pressões e os riscos climáticos, tudo isso foi muito intenso. O que mais me marcou foram dois sentimentos: o primeiro de tristeza ao ver uma floresta sofrendo com a exploração madeireira e o uso do fogo para abrir novas áreas de pastagem. O segundo, de esperança. Tem muita gente boa pensando e trabalhando para evitar que esse bioma desapareça diante de tantas pressões”, comenta Hélen Freitas, jornalista do site Repórter Brasil e convidada na imersão.
“Participar dessa imersão sobre os impactos do fogo no Acre foi uma experiência maravilhosa! Além de conversar com os maiores pesquisadores na área, ver o impacto pessoalmente e viver alguns dias nessa região mudou completamente minha visão sobre o assunto. Eu sempre soube que o fogo causava estragos, mas ver com meus próprios olhos a floresta de bambu, andar nas matas sentindo o cheiro de queimado, ver o quanto uma floresta sofre depois de um incêndio e conversar com os moradores locais que sofrem com isso frequentemente me mostrou que temos que mudar, temos que exigir mudanças, apoiar a ciência e quem luta por isso diariamente, assim como o IPAM e seus pesquisadores. Não tenho palavras pra agradecer o convite pra participar desse Bootcamp, são ensinamentos que vou levar pra vida toda!”, compartilha Bianca Witzel, criadora de conteúdo no Instagram.
“A imersão foi uma experiência incrível. Conhecer as diversas Amazônias é crucial para quem cobre a floresta − e a viagem foi uma oportunidade única de mergulhar em detalhes e especificidades que exigiriam muitas viagens e entrevistas com especialistas e amazônidas para reunir. A imersão comprimiu tudo isso numa experiência intensa e muito rica, e é realmente um presente ter tido uma oportunidade tão única. Tenho certeza de que minha cobertura de Amazônia vai ser bem mais rica depois desta experiência!”, conclui Meghie Rodrigues, jornalista de ciência.
Foto de capa: Visita à sede do Prevfogo em Sena Madureira (Foto: Bibiana Garrido/IPAM)

