Por Lucas Guaraldo*
O recorde de queimadas observado na Amazônia fez com que cidades do interior da floresta tivessem o ar mais poluído de todo o Brasil, aponta o policy brief “Desafios e perspectivas do monitoramento da qualidade do ar na Amazônia Legal”. O documento reúne dados de 187 sensores de baixo custo instalados em todos os estados da Amazônia Legal pela Coalizão Respira Amazônia, da qual o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) faz parte. O relatório também aponta caminhos para o monitoramento da qualidade do ar na região e os efeitos da poluição na população.
“As áreas com o ar mais poluído do Brasil estão justamente no coração da Amazônia por conta das queimadas. Essa é uma agenda fundamental pro Brasil. Estamos acostumados a falar da qualidade do ar em grandes cidades por conta da queima de combustíveis fósseis e a indústria, mas não falamos da poluição no interior da floresta”, destacou Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM e umas das autoras do documento.
Segundo o relatório World Air Quality, 13 das 38 cidades com a pior qualidade do ar do Brasil estão localizadas na Amazônia Legal, impulsionadas pelas queimadas e incêndios florestais, que aumentaram 116% no bioma entre janeiro e agosto de 2024, atingindo 11 milhões de hectares. O uso do fogo para manejo do solo e áreas recentemente desmatadas libera grande quantidade de poluentes nocivos como material particulado em suspensão – partículas sólidas e líquidas suspensas no ar – e monóxido de carbono.
Risco à saúde
Além dos impactos das queimadas, o policy brief destaca os efeitos da baixa da qualidade do ar no modo de vida dos povos indígenas e comunidades tradicionais da Amazônia. Apesar de viverem em áreas preservadas, o ar poluído pelas queimadas tem tido sérias consequências na saúde, no desenvolvimento infantil e na rotina desses grupos. Também foram elencadas as dificuldades enfrentadas pela implementação das políticas públicas brasileiras no setor, em especial nos territórios de mais difícil acesso.
“A gente não pode esquecer das comunidades tradicionais. Monitorar as cidades é importante, mas, no Xingu, um sensor mostrou que o ar estava 53 vezes pior do que o recomendado pela OMS [Organização Mundial de Saúde]. Quem protege a floresta deveria estar respirando um ar puro, mas fica com um ar mais sujo que o da Avenida Paulista. Por isso temos antenas instaladas com energia solar em diversas comunidades tradicionais e extrativistas da Amazônia, porque é esse pessoal que mais tem vivido a calamidade pública da qualidade do ar”, alerta Filipe Viegas, pesquisador do IPAM que trabalhou na instalação dos sensores.
Analista de comunicação do IPAM, lucas.itaborahy@ipam.org.br*