Diante da emergência climática, a relação entre água, energia e alimentos se tornou estratégica para o Brasil. A discussão pautou o painel “Sinergias Renováveis: Integrando Água, Energia e Alimentos para o Desenvolvimento Sustentável no Brasil”, organizado pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) no Pavilhão do Consórcio da Amazônia, na COP29, em Baku.
Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM, lembrou a necessidade da água para a geração de energia, transporte, produção agrícola e para o consumo humano, alertando para o aumento da perda de água no Cerrado – bioma que abriga nascentes de 8 das 12 principais bacias hidrográficas brasileiras.
“No total, 1.058 municípios, basicamente 74% do Cerrado, tiveram perda considerável na superfície de água. Isso por conta das mudanças climáticas, mas também porque o bioma se tornou a grande frente de expansão da agricultura de larga escala no Brasil”, afirmou.
Felipe Barcellos, pesquisador do IEMA (Instituto de Energia e Meio Ambiente), avaliou positivamente o processo de transição energética brasileiro, mas disse que precisa ser acelerado. Atualmente, metade da matriz energética brasileira tem a energia limpa como origem. O setor de transportes, contudo, ainda é o maior usuário dos combustíveis de origem fóssil no país.
“No Brasil talvez ainda seja necessário o estímulo aos combustíveis renováveis, principalmente que dependemos muito de caminhões, que precisam traficar grandes distâncias”, exemplificou.
Na questão dos alimentos, Ludmila Rattis, pesquisadora do IPAM e do Centro de Pesquisa Climática Woodwell, enfatizou os benefícios das florestas sobre a produção agrícola.
“Precisa de pelo menos 18% de floresta para você não ter uma quebra brusca de safra. Aí, depois você continua subindo. Então, a floresta tem esse efeito positivo em qualquer proporção que ela esteja na paisagem”, destacou.
Moisés Savian, secretário de Governança Fundiária e Desenvolvimento Territorial e Socioambiental, do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar), ressaltou que a terra no Brasil é, em geral, privada. Pontuou que a legislação territorial precisa ainda avançar para permitir, por exemplo, a regulamentação do Código Florestal e uma fiscalização mais efetiva da legislação agrária.
“Nós estamos construindo de uma política nacional de governança fundiária”, afirmou. “Precisamos ter investimento em equipe capacitada e em recursos, partindo de que princípio? De que a terra é um patrimônio nacional, não é um patrimônio monetário simplesmente, é um patrimônio econômico e ecológico”.
Uma das soluções indicadas por Moisés Savian foi a designação das florestas públicas não destinadas. O país tem cerca de 51 milhões de hectares dessas áreas que, por não ter uma definição de uso ou categoria fundiária específica, seja para parques, unidades de conservação ou terras indígenas, por exemplo, ficam expostas a atividades ilegais como a grilagem de terra.