Chefe da etnia Mebêngôkre (Kayapó) e uma das principais lideranças indígenas do país, o cacique Raoni Metuktire fez, esta semana, uma visita de cortesia ao escritório do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), em Brasília.
Entre troca de apertos de mãos, fotos e sorrisos, além de muitas histórias, Raoni compartilhou suas preocupações. “As pessoas que destroem a floresta e fazem garimpo estão acabando com tudo, por isso está vindo muita seca”, afirmou.
Preocupado com a emergência climática, ele fez um apelo pela conservação. “A gente já falou isso no passado. Se não preservar a natureza, todos vão sentir os efeitos ruins”, declarou.
Diante da maior onda de incêndios florestais desde 2010, o líder indígena condenou o fato de as ocorrências serem, em sua maioria, por ação humana. “Estou bravo”, fez questão de dizer.
O cacique também fez questão de mostrar posição contrária ao Marco Temporal, que restringe a demarcação de terras indígenas habitadas apenas antes de 5 de outubro de 1988. O tema está em julgamento no Supremo Tribunal Federal.
Um estudo divulgado pelo IPAM no ano passado demonstrou que, com o Marco Temporal é uma combinação nefasta para um aumento projetado de desmatamento entre 23 milhões de hectares e 55 milhões de hectares de áreas nativas e da emissão de 7,6 a 18,7 bilhões de toneladas de CO2 (gás carbônico), equivalentes a 5 e 14 anos de emissões do Brasil, ou a 90 e 200 anos de emissões dos processos industriais, respectivamente.
“Receber Raoni é um privilégio sem tamanho. É um reconhecimento ao trabalho do IPAM e reforça o nosso compromisso de proteger a floresta e os povos tradicionais”, enfatizou André Guimarães, diretor executivo do IPAM.
O IPAM, junto ao Instituto Raoni, prepara um estudo para medir os impactos das mudanças climáticas nos territórios indígenas da
Homenagem
No dia a dia, Raoni usa, frequentemente, a palavra “Mejkumrenh”, seja para cumprimentar as pessoas ou para agradecer por algo. Durante sua visita ao IPAM, ele não só falou várias vezes como tentou ensinar a pronúncia correta da palavra. A expressão Kayapó não tem uma tradução livre para o português. “Tem o sentido de demonstração de agradecimento, de gratidão, de quando fica satisfeito com alguma coisa”, explica o líder jovem indígena Beptuk Metuktire, neto de Raoni, que o acompanhou ao Instituto.
Em homenagem ao povo Kayapó, a principal sala de reuniões do IPAM, que ficou lotada para receber Raoni, será batizada de Sala Mejkumrenh.
Raoni também recebeu de presente ilustrações feitas por Valentina Passador, analista de pesquisa do IPAM e artista.
Não é a primeira vez que o líder indígena é homenageado pelo Instituto. Raoni é o principal personagem do minidocumentário “O chamado do cacique herança, terra e futuro”, que foi lançado em abril. A produção faz parte do Amazoniar, projeto do IPAM, em parceria com o Instituto Raoni. O filme foi exibido no mês passado para alunos, professores e parceiros na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, seguido por um bate-papo com o próprio cacique.