Emissão de CO2 por queimadas na Amazônia cresce 60%

17 de setembro de 2024 | Notícias

set 17, 2024 | Notícias

*Observatório do Clima

Os incêndios que queimaram 2,4 milhões de hectares na Amazônia entre junho e agosto de 2024 emitiram 31,5 milhões de toneladas de CO2 equivalente. É quase o que a Noruega emite por ano (32,5 milhões de toneladas de CO2 equivalente). Comparado com o mesmo período de 2023, o aumento das emissões foi de 60%. A estimativa foi feita pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), que integra o SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa).

A área analisada inclui florestas, campos e pastagens. Ao considerar somente a vegetação florestal, os incêndios impactaram 700 mil hectares, que emitiram 12,7 milhões de toneladas de CO2 equivalente. Esse valor é mais do que o dobro do emitido por queimadas em áreas florestais no mesmo período de 2023. As emissões oriundas de incêndios não são contabilizadas no inventário nacional (que só inclui o carbono de queimadas ligadas a desmatamento), mas têm sido relatadas pelo SEEG.

A análise do IPAM também destaca que as emissões continuam após o fim do fogo devido à decomposição da vegetação atingida. Estima-se que, nos próximos 5 a 10 anos, mais de 2 a 4 milhões de toneladas de CO2 equivalente poderão ser emitidas por essa razão.

“Um importante impacto dos incêndios florestais nas emissões não ocorre no momento em que a floresta está queimando, mas depois, quando principalmente as grandes árvores morrem e continuam a emitir CO2 por muitos anos, o que é chamado de emissão tardia. O pior é que uma floresta degradada pelo fogo se torna mais suscetível a outros incêndios, perpetuando um ciclo de degradação e emissões”, explica Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM.

“Temos um cenário assustador de florestas em pé, que deveriam estocar carbono pelas próximas centenas de anos, sendo devastadas pelo fogo e se tornando uma fonte significativa de gases de efeito estufa. Nos próximos anos, talvez não vejamos a fumaça, mas as emissões continuarão ali e, com elas, o aumento do aquecimento global”, completa Camila Silva, pesquisadora do IPAM.

Bárbara Zimbres, pesquisadora do IPAM, comenta que os dados mostram um impacto relevante nas emissões de gases de efeito estufa, que desacelera o que o país tem conseguido mitigar com a redução do desmatamento. Em agosto, o governo divulgou que a área de alertas de desmatamento em 2024 na Amazônia Legal foi a menor já medida pelo sistema Deter-B, do Inpe. O registro apontou 4.315 km², uma queda de 46% em relação ao ano passado. O dado indica que a taxa oficial de desmate, que será anunciada em novembro, poderá apresentar a segunda queda consecutiva de desmatamento na terceira gestão de Lula.

Os incêndios que têm se espalhado pela Amazônia são intensificados pelo clima seco que atinge o país. Segundo nota técnica divulgada em 5 de setembro pelo Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), a seca, além de ser muito intensa, já se configura como uma das mais longas dos últimos 70 anos. As causas resultam de uma combinação de fatores, como a fraca estação chuvosa, que não conseguiu repor a umidade do solo e da vegetação secos na temporada passada, o aquecimento global, que tem desequilibrado o clima, e a mudança no uso do solo, que degrada a vegetação, uma importante fonte de umidade.

“O cenário é preocupante, pois os impactos a longo prazo de queimadas tão intensas não são totalmente claros. Há o risco de entrarmos num círculo vicioso de secas mais severas, incêndios mais intensos e aumento da mortalidade de árvores que, por sua vez, retroalimentam os estoques de combustível disponíveis para eventos de fogo futuros.”, comenta Zimbres.

**Crédito da foto: Joedson Alves/EBC

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