Por Elias Serejo
Em Irituia, município da região nordeste do estado do Pará, a revolução sintrópica – um modelo de agricultura que busca inspiração na dinâmica natural dos ecossistemas para um manejo sustentável – é uma realidade graças ao trabalho de Vicente Cirino Gomes, 46 anos, e dos agricultores do IVISAM (Instituto Vida em Sintropia da Amazônia).
Natural da comunidade São Pedro do Patrimônio, Vicente é um exemplo de dedicação à terra, à educação e às práticas sustentáveis e inovadoras. Graduado em Ciências Naturais e pós-graduando em Restauração Ambiental e Sistemas Agroflorestais pela UFPA (Universidade Federal do Pará), ele é agricultor agroflorestal e trabalha com o conceito de permacultura, que consiste na elaboração, implantação e manutenção de ecossistemas produtivos que mantenham a diversidade, a resiliência e a estabilidade dos ecossistemas naturais, promovendo energia, moradia e alimentação de forma harmoniosa com o ambiente.
Tudo começou em 2015, quando Vicente ainda morava em Canaã dos Carajás (PA). “Foi lá que tive meu primeiro contato com a permacultura. Em sala de aula, eu não me sentia realizado. Precisava de algo que realmente impactasse a vida das pessoas. A permacultura abriu meus olhos para um projeto social que pudesse fazer a diferença,” relembra ele.
Em 2018, Vicente fundou IVISAM com o objetivo de implementar uma agricultura sintrópica na região. O Instituto é uma associação civil sem fins lucrativos com sede no Sítio Portal Monã, onde o agricultor reside e lidera esforços para transformar a realidade local através da permacultura e da implantação de SAFs (Sistemas Agroflorestais). “Queríamos construir alternativas no campo do bem-viver, levando permacultura para as comunidades, especialmente para aqueles que trabalham com a produção de alimentos, garantindo segurança e soberania alimentar”, explica o agricultor.
O IVISAM apoia atualmente 24 famílias para implantar cerca de 30 hectares de agrofloresta, promovendo uma agricultura que conserva o meio ambiente e melhora a qualidade de vida dos agricultores.
Os resultados são visíveis. Além de uma produção diversificada que inclui feijão, melancia, arroz, pepino, abacaxi, acerola, banana, cacau, cupuaçu e açaí, os sistemas agroflorestais estão ajudando a capturar carbono e regenerar o solo. “Estamos criando solos mais férteis para as próximas gerações”, ressalta Vicente.
O agricultor enfatiza a importância da felicidade e da cooperação. “A mudança na forma de pensar dos agricultores é notável. Eles estão mais felizes, cooperativos e irradiando essa alegria para outras pessoas”, observa. Ele também destaca as parcerias com entidades como a UFPA e empresas agroecológicas, que têm sido fundamentais para o avanço do projeto.
Apesar dos desafios, Vicente se mantém firme na missão de transformar a agricultura e, consequentemente, a vida das pessoas na região. “Sabemos que somos apenas uma gota no oceano, mas estamos fazendo a nossa parte para deixar um legado positivo para o planeta”, conclui.
Educação e capacitação: a chave para a sustentabilidade
O IVISAM também se dedica à educação comunitária. Por meio de palestras, oficinas e cursos, o instituto capacita agricultores e moradores locais. Um exemplo é o curso de Sistemas Agroflorestais e Restauração Ambiental, realizado em parceria com a UFPA. “Conseguimos colocar oito membros do IVISAM no curso, aproximando-os da academia e ampliando seus conhecimentos. Isso é indescritível para quem mora na zona rural e quer estar próximo da universidade”, celebra Vicente.
Impacto ambiental e social: um modelo de sucesso
A ressignificação da agricultura para os agricultores familiares é outro destaque. “Os agricultores estão redescobrindo o prazer de trabalhar na terra, agora de forma cooperativa e sob a sombra das árvores, o que diminui a penosidade do trabalho. Isso resgata o cooperativismo e a economia solidária, trazendo felicidade e uma nova perspectiva para a vida no campo”, observa ele.
O IVISAM já se tornou referência, inspirando outras comunidades e estabelecendo parcerias com entidades como o IPAM e empresas que atuam no campo agroecológico.
*Jornalista do IPAM