Por Luiza Melo*
Roberta Rocha e Clarisse Touguinha são pesquisadoras que compõem o time do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).
Roberta está iniciando a sua carreira na área da ciência. Concluiu a graduação em Ciências Ambientais em 2022 e uma das iniciativas em que atua dentro do IPAM é a rede MapBiomas Alerta.
Já Clarisse, graduada em Biologia em 2008, atualmente gerencia no IPAM o projeto de cooperação internacional Solving the Amazon Puzzle (em português, “resolvendo o quebra-cabeças da Amazônia”).
Esta entrevista foi publicada originalmente na Um Grau e Meio, newsletter com análises exclusivas sobre clima, meio ambiente e sociobiodiversidade, produzida pelo IPAM.
Roberta, quando você decidiu seguir a carreira de pesquisadora?
Roberta: Desde pequena eu sempre fui muito curiosa e gostava muito de aprender. Eu passei grande parte da minha infância no interior do Maranhão, numa cidade pequena, e lá eu tenho familiares que têm um contato muito próximo com a natureza.
Até hoje eles desenvolvem a agricultura familiar, principalmente com o cultivo de mandioca para produção de farinha, então sempre tive contato com a natureza também. Isso influenciou bastante para que eu decidisse seguir a carreira de pesquisadora.
Clarisse, você que tem mais experiência na área, do que você mais gosta no trabalho ambiental?
Clarisse: É pensar e entregar caminhos e soluções. Depois, acompanhar a implementação.
Quais foram os desafios que vocês encontraram até agora na profissão?
Clarisse: Ao longo da minha carreira, sempre foram desafiadores os momentos em que precisei equilibrar diferentes perspectivas nos projetos para tentar tomar as melhores decisões.
Roberta: Se a gente for observar anos atrás, sabemos que as mulheres não ocupavam tanto as vagas no mercado de trabalho e muito menos como pesquisadoras. Esse meio científico sempre foi extremamente masculinizado, mas, com o decorrer dos anos, a gente tem visto cada vez mais pesquisadoras lutando para ocupar esses espaços.
Os desafios são diversos e diários e precisamos quebrar muitas barreiras, enfrentar muitos obstáculos, como preconceito de gênero, dúvida sobre a qualidade do trabalho, sobre a competência, a descredibilização da fala. Esse cenário tem mudado com muita luta, e estamos chegando lá.
O que está achando do começo da profissão, Roberta?
Roberta: O IPAM é uma instituição que me inspira muito, tanto pela qualidade, quanto pelo comprometimento com o trabalho que é desenvolvido. O fato de ter muitas mulheres também é importante para mim. É uma das instituições que eu conheço que mais tem mulheres ocupando papéis de liderança.
São mulheres em que eu me espelho e admiro muito. É muito importante, para mim, poder contribuir com todas essas temáticas que têm na conservação, nas políticas públicas e mudanças climáticas. Também para lutar pelo que eu acredito.
E sobre a sua trajetória, Clarisse, o que mais te emocionou no caminho?
Clarisse: Poderia citar algumas, mas há alguns anos consegui contribuir com a chegada de ações de compensação, em razão da duplicação da BR-101, para comunidades indígenas em Alagoas. Sem dúvida, foi um momento que marcou muito porque havia muita desesperança entre essas pessoas de que algum dia chegaria.
Trabalhar no IPAM em si já é também uma grande conquista para mim! Me ver trabalhando em defesa da Amazônia ao lado de pessoas que eu admiro tanto é motivo de muito orgulho.
O que você diria para as meninas que sonham em ser cientistas?
Roberta: Uma frase bem clichê mesmo: que essas futuras pesquisadoras não desistam, que elas lutem para que ocupemos cada vez mais espaços e nunca duvidem das suas capacidades.
Essa luta já vem de anos, então que elas honrem mesmo, não se esqueçam das lideranças e se inspirem nas mulheres que vieram antes. Todas as pesquisadoras que vieram antes de nós lutaram para que a gente ocupasse esses espaços hoje.
Clarisse: A realização do seu sonho pode fazer grande diferença na vida de outras pessoas. Não há recompensa melhor! Acredite em você e persista!
*Estagiária sob supervisão de Sara Raíra Leal