Por Sara R. Leal*
Para que povos originários estejam cada vez mais presentes nas discussões e decisões sobre clima e meio ambiente, o CIMC (Comitê Indígena de Mudanças Climáticas) criou uma formação com metodologia acessível à essas populações. Chamada de “português indígena”, segundo Kaianaku Kamaiura, comunicadora do CIMC, a capacitação trata de temas como REDD+ (instrumento que visa recompensar financeiramente países em desenvolvimento por seus resultados relacionados à recuperação e conservação de suas florestas), crédito de carbono, mudanças climáticas, dentre outros.
A formação foi um dos temas tratados na COP28, em Dubai, durante o painel “Comitê Indígena de Mudanças Climáticas: inovação no enfrentamento às mudanças climáticas”, realizado pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) em parceria com a APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), o CIR (Conselho Indígena de Roraima), a COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), o TNC (The Nature Conservancy) e a RCA (Rede de Cooperação Amazônica).
Marciely Tupari, secretária da COIAB, afirmou, durante o painel, que as informações da capacitação evitam que as lideranças cedam a pressão de empresas que queiram fazer acordos sobre os territórios indígenas. Sineia do Vale, coordenadora do CIMC e do CIR, ressaltou a necessidade de levar os debates das Conferências de Clima para o território. “Se não fizermos esse caminho de volta às aldeias, as discussões ficam só no âmbito global. É preciso que as comunidades se empoderem sobre o tema para chegar na COP30, por exemplo, falando por nós mesmos”.
Dentre as pautas defendidas pelo CIMC está também a inclusão e valorização de todos os biomas brasileiros diante dos desafios das mudanças climáticas. Segundo Dinamam Tuxá, coordenador da APIB, é preciso dar visibilidade e buscar mecanismos de apoio não só para a Amazônia, mas também para os demais. “Todos estão conectados. A crise climática não está em só um bioma”, enfatizou. Martha Fellows, coordenadora do núcleo de estudos indígenas do IPAM e moderadora do painel mencionou que o Cerrado tem sido referenciado como o ‘bioma do sacrifício’, devido ao foco na Amazônia.
*Coordenadora de comunicação do IPAM