Por Lucas Guaraldo*
“Sabemos que as mudanças climáticas são sobre relações internacionais. Existem assimetrias históricas entre países que se beneficiaram relativamente das suas emissões e também existem países que menos colaboram com essa crise climática, mas tem sofrido com a maior parte dos riscos e perdas”, pontuou Patrícia Pinho, diretora adjunta de Ciência do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), durante sua participação na terceira audiência da Virada Parlamentar Sustentável, iniciativa da Frente Parlamentar Mista da Transição Climática Justa que reuniu lideranças da sociedade civil e membros do Governo nas áreas de meio ambiente, agricultura e direitos humanos.
O evento discutiu os impactos sociais das mudanças climáticas na produção de alimentos e na qualidade de vida de pequenos produtores rurais e da população pobre como um todo. Também foram debatidos os impactos do racismo ambiental – processo de discriminação que populações compostas por minorias étnicas sofrem devido à degradação ambiental – e da injustiça climática no Brasil.
Patrícia também pontuou que a Amazônia vive um caminho duplo na agenda ambiental. Apesar de representar o maior trunfo do Brasil no combate às alterações no clima, a região sofre com desmatamento, pobreza e uma má gestão fundiária.
“A gente sabe que a região é parte da solução para a crise climática global, mas ela também é um polo de perda de biodiversidade e do mal uso da terra. Isso acarreta perdas culturais e de modos de vida, e aumenta a vulnerabilidade da região. Dentro desse contexto, a justiça climática é parte essencial do arcabouço global e local para lidarmos com a crise”, destacou.
Também participaram do evento Ana Toni, Secretária Nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima; Ana Maria Placidino, coordenadora-geral de Governança Fundiária do Ministério do Desenvolvimento Agrário; a deputada Socorro Neri (PP-AC), autora do requerimento das audiências; Marcos Wortman, coordenador do IDS (Instituto de Desenvolvimento Sustentável); Samanta Pineda, vice-presidente do IBRADES (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável); e José Vitor Pereira, da Coalizão Negra por Direitos.
Um clima mais extremo
Na abertura da mesa, Ana Toni ressaltou a urgência de se tratar dos impactos sociais e econômicos das mudanças climáticas no Brasil e destacou a emergência dos eventos climáticos extremos no território brasileiro. Segundo a secretária, secas, enchentes e tempestades têm causado cada vez mais mortes e um impacto bilionário na economia nacional.
“O Brasil é um dos países mais vulneráveis, infelizmente. Os eventos climáticos extremos que estamos vivendo causam perdas de vidas, que é o mais importante, mas também há perdas econômicas impressionantes. Há uma perda de recursos em todas as áreas por conta da seca, enchentes e tempestades. Temos que reconstruir cidades inteiras, escolas, hospitais e, obviamente, a agricultura. Os impactos perversos existem e no Brasil são muito concretos”
A secretária destacou que, atualmente, 93% dos municípios já estão sendo atingidos por eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes e violentos. Além disso, alertou que a maior parte das cidades está despreparada para lidar com um clima mais extremo e que, por isso, se torna obrigatório agir para conter os danos na população.
“Enquanto a gente fica brigando pelos 100 bilhões que os países desenvolvidos prometeram, mas não pagaram, estamos aqui pagando bilhões para conter os danos das mudanças climáticas. Isso já está acontecendo. A gente sabe que nossos municípios não têm a capacidade que deveriam para lidar com esses eventos climáticos e por isso temos trabalhado para identificar exatamente quais são as cidades em maior risco de enxurradas, de secas, de temporais. Mitigar as alterações climáticas deixou de ser opção e virou necessidade básica”, completou.
Jornalista do IPAM, lucas.itaborahy@ipam.org.br*