Joenia Wapichana toma posse como presidente da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) nesta sexta-feira, 3, e demarca a retomada do papel da instituição na proteção dos direitos dos povos indígenas. O IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) saúda a nova Funai neste momento histórico com a primeira presidência indígena.
“Finalmente uma Funai verdadeiramente dos povos indígenas e para os povos indígenas. Joenia tem experiência e conhecimento profundo para combater o avanço das ameaças aos direitos fundamentais das e dos indígenas, em especial, o direito às suas terras, essas, tão ameaçadas pela grilagem e pelo garimpo ilegal”, diz Paulo Moutinho, pesquisador sênior e fundador do IPAM.
A nova presidente da Funai tem o pioneirismo como marca de sua trajetória: foi a primeira deputada federal indígena eleita no Brasil, em 2018, com um mandato coletivo; a primeira mulher indígena a concluir a graduação em Direito no país, em 1997, pela Universidade Federal de Roraima; a primeira indígena advogada a fazer uma sustentação oral no Supremo Tribunal Federal, em 2008, com o caso da Terra Indígena Raposa Serra do Sol; a primeira presidente da Comissão Nacional de Direitos dos Povos Indígenas da Ordem dos Advogados do Brasil, em 2013.
“Novos tempos para o Brasil! Pela primeira vez, teremos a Funai presidida por uma mulher indígena. Serão muitos desafios, mas juntos vamos trabalhar e reerguer nossa casa!”, escreveu Joenia sobre a nomeação para o órgão.
A inédita gestão indígena, em 56 anos de Funai, assume a pasta em meio às consequências do enfraquecimento deliberado de políticas socioambientais nos últimos anos. Estudo coordenado pelo núcleo indigenista de pesquisas do IPAM em parceria com a COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) equiparou as ameaças decorrentes da desestruturação pública às que acompanham desmatamento, fogo, grilagem e garimpo.
Sem um esforço no caminho imediatamente oposto, como este que vivenciamos e vivenciaremos junto à Funai indígena, tais fatores poderiam ter impactos irreversíveis para a vida humana com a dizimação de etnias inteiras.