Por Lucas Guaraldo*
Cerca de 500 batedeiras de açaí de Belém e do município de Ananindeua, no Pará, participaram de um levantamento socioeconômico realizado pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) como parte do projeto Cadeias Sustentáveis no Estado do Pará: informações de qualidade para uma economia inclusiva e de baixo carbono, que investiga diferentes aspectos das cadeias produtivas do açaí e do cacau.
Batedeiras de açaí são microempreendimentos que processam o fruto manualmente para consumo imediato da população. A tradição, contudo, está ameaçada pelo aumento de grandes processadoras do fruto, falta de apoio de políticas públicas e baixo acesso a créditos bancários para a compra de equipamento ou melhorias na infraestrutura de suas lojas.
O projeto é realizado em parceria com a Sedap (Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca no Estado do Pará) e a Ceplac (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira), e conta com o apoio da AFD (Agência de Desenvolvimento Francês).
O levantamento pretende orientar políticas públicas para o fortalecimento das batedeiras e contribuir para sua valorização na economia e na cultura locais. De acordo com a pesquisadora no IPAM e coordenadora do projeto, Erika Pinto, “o levantamento de dados é um passo fundamental na construção de estratégias que tonifiquem o trabalho das batedeiras, a partir dos desafios enfrentados por elas.”
De acordo com as batedeiras entrevistadas na pesquisa, o setor tem se expandido nos últimos anos. O crescimento de renda e de clientela, no entanto, não veio acompanhado de apoio público e muitos microempreendimentos têm sofrido para captar recursos e competir de forma justa com a concorrência.
Tradição em risco
No Pará, o açaí é conhecido como “ouro roxo”. Em visita aos principais municípios produtores do fruto no Estado, pesquisadores do IPAM constataram que, devido ao rápido crescimento na exportação, os preços do produto nas cidades aumentaram 200% em menos de oito anos.
Boa parte desta parcela de produção depende do trabalho de batedeiras e batedores de açaí, que se especializam há décadas no processo. São microempreendimentos que têm o processo artesanal como principal atividade. Processo este que compete, sem auxílio, com os recursos e a grande escala de produção de grandes empresas do ramo. Para Erika, trata-se de uma competição desigual que pode inviabilizar o processo tradicional de produção.
“Apesar das etapas que devem passar por melhorias, a solução não é encerrar os processos artesanais, uma vez que a supressão do setor atinge diretamente milhares de vidas só em Belém. É preciso fomentar o debate e fortalecer as iniciativas, proporcionando maior visibilidade ao setor e à causa e, assim, trazer resultados eficientes capazes de melhorar os indicadores socioeconômicos dos grupos envolvidos”, sugere a coordenadora.
Estagiário sob supervisão de Natália Moura*