“A juventude não tem mais expectativas para o futuro por conta das mudanças climáticas. As pessoas não querem mais ter filhos por isso. São questões que precisamos fazer algo agora para contornar. (…) somos pessoas comuns, não somos super heróis, e que todos podem fazer algo para mudar”. A fala inicial que retrata o sentimento de uma geração é do jovem brigadista florestal Bruno Odara. Junto a mais quatro jovens pelo meio ambiente, ele participou da terceira edição do Proteja Talks com o tema: “E aí, bora entrar no clima?”.
O evento foi ao ar no canal do Portal Proteja no Youtube em dezembro de 2021 e teve a participação da ativista na Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso, a indígena Kaianaku Kamaiurá da aldeia Kaluani, no alto rio Xingu; da bióloga voluntária na Rede de Jovens Líderes em Áreas Protegidas e Conservadas da América Latina e Caribe e presidenta do Instituto Mapinguari, Hannah Balieiro; da estudante de Jornalismo e Quilombola da comunidade do Bairro Alto de Salvaterra em Marajó, no Pará, Heloiá Carneiro; do produtor cinematográfico e brigadista florestal voluntário na SIMBiOSE, associada à Rede Nacional de Brigadas Voluntárias, Bruno Odara; e do jovem ativista ambiental Jorge Ricardo Valetim, agente voluntário de biodiversidade na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Puranga Conquista, à margem esquerda do rio Negro, no Amazonas.
A apresentação ficou por conta de Gabriela Luz, que é travesti, atriz e educadora, e Matheus Botelho, jornalista, jovem liderança e produtor cultural, ambos de Belém do Pará – de onde foi realizada a transmissão. O Proteja Talks é organizado pelo Portal Proteja, uma iniciativa de Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Instituto Socioambiental (ISA) e Woodwell Climate Research Center para facilitar o acesso a informações sobre áreas protegidas no Brasil.
Em uma das falas iniciais Kaianaku contou ter consultado anciãos de sua aldeia para tentar entender por que a emergência climática parece ser ignorada pelo mundo enquanto está tão presente na vida de povos indígenas. “Essa reflexão veio a partir da nossa história, porque viemos da natureza e retornamos a ela. Não tem como dissociar nossa forma de vida da natureza. Dizer que vai acabar a floresta é dizer que vai acabar a gente e a nossa cultura. Nosso temor é que isso não seja levado a sério, porque o debate vem sendo feito há muito tempo, mas pouco é colocado em prática na forma de políticas públicas efetivas para que as transformações comecem a acontecer.”
Para Heloiá, a fala da jovem indígena se assemelhou à sua perspectiva. A jovem quilombola trouxe para o debate as ameaças enfrentadas por povos e comunidades tradicionais em seus territórios. São conflitos pela terra que violam direitos humanos e territoriais, muitas vezes prejudicando também a biodiversidade. “Hoje em dia a gente luta muito para manter nossas tradições, mas a gente sofre com conflitos de fazendeiros que se apossam de nossa terra e começam a explorar. Essas pessoas estão devastando de uma forma descontrolada e nós não temos ainda a titulação de nossa terra, portanto, não teríamos como comprovar que é nossa de direito para que respeitem nosso espaço.”
“É muito importante que esse debate seja levado para os jovens das comunidades, porque é justamente através desse diálogo que a gente vai tentar resolver, para conseguir se mobilizar e lutar”, disse Heloiá, aproximando o tema da justiça climática da pauta socioambiental.
O jovem manauara comentou sobre os impactos das mudanças climáticas na realidade local, já percebidos pela população, por exemplo, na alteração da vazão do rio Negro. “Eu não tinha ciência de que a emergência climática poderia influenciar tanto a área em que moramos, mas nunca tinha sofrido uma cheia tão grande e reconheço que as mudanças climáticas têm alterado o comportamento do rio”, contou Jorge.
Lembrando bell hooks, escritora e teórica feminista antirracista que morreu em 15 de dezembro, Balieiro comentou sobre a importância do afeto em meio a tantas batalhas. “Nossa trajetória enquanto ativista é também de afeto, de amor à causa e às pessoas. Como a Kaianaku lembrou, tivemos a maior delegação de indígenas na COP26 [Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, realizada na Escócio em novembro de 2021], também a maior presença de jovens e de latino-americanos. Não é um espaço acessível, mas foi um grande momento poder participar e ver que muita gente está construindo junto.”
Assista à terceira edição do Proteja Talks: