A versão 4.0 do aplicativo de celular Alerta Clima Indígena (ACI), disponível gratuitamente para Android e iOS, foi lançada na última quinta-feira (21) em evento virtual, com transmissão ao vivo pelo nosso canal no YouTube. Desenvolvida pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), em parceria com o Conselho Indígena de Roraima (CIR), a COCALITIA (Comissão de Caciques e Lideranças da Terra Indígena Arariboia) e o Instituto Raoni, a iniciativa tem o objetivo de apoiar a gestão ambiental e territorial de terras indígenas da Amazônia brasileira.
Para compartilhar experiências sobre o aplicativo e percepções a respeito das mudanças climáticas globais nos territórios, participaram do encontro o brigadista indígena e responsável pelo monitoramento territorial no Instituto Raoni, Roiti Metuktire; a coordenadora do Departamento Gestão Ambiental no CIR (Conselho Indígena de Roraima), Sineia do Vale; o técnico do SIG (Sistema de Informações Geográficas) no CIR, Genisvan André; e o agrônomo no CIR, Giofan Erasmo.
A diretora de Ciência no IPAM, Ane Alencar, e a pesquisadora e ponto focal da agenda indígena no instituto, Martha Fellows, realizaram a abertura e a mediação do evento. O especialista em gestão de projetos da Usaid Brasil (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), Marcos Bauch, também participou da conversa.
Gestão dos territórios
Criado em 2017, o ACI mostra informações em tempo real sobre clima, fogo e desmatamento para cada terra indígena da Amazônia brasileira. Pessoas usuárias podem inserir seus próprios alertas por meio de fotos, textos e áudios, sem necessidade de internet. Quase dois mil alertas já foram registrados no aplicativo por quem vive nos territórios, indicando locais de foco de incêndio e áreas desmatadas.
“O ACI é uma ferramenta a mais para ajudar nós, povos indígenas, a cuidar melhor do nosso território, e de alguma forma, para alertar não só o nosso pessoal, mas os não-indígenas sobre a importância de manter a floresta em pé”, disse Metuktire, que atua na brigada indígena e no monitoramento territorial da terra indígena Capoto/Jarina, em Mato Grosso.
Entre as novidades da versão 4.0 do aplicativo estão as funções de localização, gravação de trajetos e medida de áreas e distâncias, além da integração com a plataforma SOMAI (Sistema de Observação e Monitoramento da Amazônia Indígena). Agora também é possível que os usuários registrem locais de aldeia e de usos tradicionais como roça, pesca, caça, e coleta de frutas e sementes – uma demanda percebida junto às organizações indígenas parceiras.
“O ACI vem suprir uma necessidade que há muito tempo nós, organizações indígenas, temos, especificamente no manejo e na proteção de terras indígenas. A partir do manejo de roças, por exemplo, podemos adotar uma gestão mais efetiva na utilização das florestas. Quanto ao fogo, o monitoramento territorial torna mais fácil as medidas a serem tomadas pelas brigadas indígenas que temos”, explicou Erasmo.
Para Sineia do Vale, o aplicativo é base para o diálogo. “É de extrema importância para nós, que estamos construindo o plano de gestão territorial e ambiental da Terra Indígena São Marcos, trabalhar com o ACI para o bem-viver dos povos indígenas. É uma ferramenta de diálogo e que dá um retorno significativo para o nosso trabalho”, disse.
Mudança climática
Ao conectar povos indígenas com informações sobre seus territórios, a iniciativa do ACI pretende contribuir com a mitigação das mudanças climáticas a partir da preservação das terras indígenas. “Os povos indígenas têm uma relação muito única com a natureza, que a gente precisa, enquanto não-indígena, aprender sobre, a valorizar e a respeitar”, comentou Fellows.
Do Vale apontou como a mudança climática é percebida nos territórios. “A temperatura aumentou e as pessoas começaram a falar bastante sobre perda de roça, então a gente já está sentindo o impacto”. E questionou: “Como podemos casar os conhecimentos tradicionais e de que forma o ACI pode nos ajudar a assessorar as comunidades para que elas se preparem?”. Em seguida, sugeriu uma resposta: “Fazendo seus planos de enfrentamento às mudanças climáticas”.
“É inegável o papel dos territórios indígenas para a mitigação das mudanças climáticas”, pontuou Alencar. “Para entendermos isso melhor, temos que compreender o papel da floresta. A floresta amazônica tem um papel super importante para a regulação do clima. A floresta em pé significa que a biodiversidade está ali, interagindo, servindo de remédio, de alimento, significa que os rios estão correndo livres e garantindo que a temperatura local seja mais amena”, acrescentou.
Parcerias
A versão 4.0 do ACI foi construída a muitas mãos: “A essência desse trabalho é a cocriação”, destacou Fellows. Na mesma linha, Genisvan André compartilhou como é fazer parte do projeto: “Eu sou a pessoa responsável por juntar os dados na base e depois levar para as comunidades. Me sinto honrado de estar participando desse processo de construção, trabalhando a interface do aplicativo. É de suma importância”.
“Entendemos que integridade e a conservação do ecossistema da Amazônia brasileira estão diretamente relacionados ao bem-estar e à autonomia dos povos indígenas e comunidades que vivem na região. O aplicativo Alerta Clima Indígena 4.0 é uma peça fundamental nesse objetivo”, complementou Bauch.
Veja como foi o lançamento da versão 4.0 do ACI no canal do IPAM no Youtube: