Reportagem especial sobre queimadas: 2 – Um menino esquenta a Amazônia

20 de outubro de 2016 | Notícias

out 20, 2016 | Notícias

Em agosto e setembro, o Inpe detectou 425.178 focos de calor no bioma amazônico. Nos mesmos meses de 2015, foram registrados 444.942 focos, cerca de 4% a mais. Já a área queimada cresceu pouco mais de 5%, de 102.965 para 108.655 quilômetros quadrados, na mesma comparação.

Esse fogaréu todo responde pelo nome de El Niño (“o menino”, em espanhol), que começou no ano passado e só foi perder força no primeiro semestre de 2016.

El Niño é um fenômeno natural climático como consequência do aquecimento fora do normal das águas do Oceano Pacífico na altura da costa do Peru. Conhecido por alterar globalmente os índices pluviométricos e os padrões de vento, no Brasil ele atinge as regiões de formas diferentes. Ao modificar a distribuição de calor e umidade, El Niño geralmente causa excesso de chuva no Sul do país e redução no Nordeste e no Leste da Amazônia.

No período de 2015-2016, a temperatura da superfície do Oceano Pacífico foi a mais alta registrada desde 2001, quando começou o monitoramento de queimadas por satélite. Para piorar, a temperatura da superfície do Oceano Atlântico também esteve acima do normal, o que intensificou a seca e, por consequência, as queimadas na Amazônia este ano1.

Alta intensidade
O último grande El Niño foi registrado entre 1997 e 1998. O fenômeno causou uma intensa seca na Amazônia, o que aumentou significativamente as queimadas. Naquele período, estudos do IPAM com IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostraram que na Amazônia os prejuízos com o fogo chegaram a quase 10% de PIB (cerca de US$ 5 bilhões na época). Em 1998, só o SUS (Sistema Único de Saúde) gastou mais de US$ 10 milhões com tratamento de problemas respiratórios na região devido à fumaça das queimadas na região. No Nordeste, a estiagem provocou uma perda de R$ 1,8 bilhão2 devido a quebras de produção. No Sul, as chuvas ficaram acima da média histórica, causando tempestades e enchentes.

Neste ano, o El Niño foi, além de intenso, extenso (confira gráfico abaixo). “Ainda não podemos atribuir essa intensidade do fenômeno ao aquecimento global; serão necessárias um pouco mais investigações”, explica o pesquisador sênior do IPAM, Paulo Moutinho. “Mas o que se pode já dizer é que, se o avanço do desmatamento e da mudanças climática continuarem, o cenário de grandes secas em boa parte da Amazônia poderá ser algo bem comum no futuro.”

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Leia a seguir: O (des)controle do fogo

Reportagem: Karinna Matozinhos
Edição: Cristina Amorim

1. http://www.ess.uci.edu/~amazonfirerisk/ForecastWeb/SAMFSS2016_pt.html
2. http://www.cbmet.com/cbm-files/12-f7ed5d4db4f4e0d8bbe8d2c00c764726.pdf

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