por André Guimarães, diretor executivo do IPAM, e Paulo Moutinho, pesquisador sênior
Um estudo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) indica um aumento de 4°C a 6°C em áreas desmatadas ao redor do Parque Indígena do Xingu (MT), bloco de florestas equivalente a Alagoas, em relação às temperaturas em seu interior, afetando a umidade na região.
Este cenário, previsto para 50 a 60 anos, efeito das mudanças climáticas, está acontecendo em 2015.
Uma equação perversa surge: aquecimento global mais desmatamento igual a menos produtividade agrícola. Em contrapartida, o estudo traz outra conclusão: a floresta melhora a resiliência local e viabiliza plantações ao redor do parque. Por isso, parar de desmatar é o melhor a fazer para enfrentar o que vem por aí.
O desmatamento zero é inexorável e ele começa na Amazônia. Compradores internacionais de commodities o exigem dos fornecedores brasileiros. Ações na região buscam caminhos para a agricultura familiar produzir mais sem desmatar e testam o uso sustentável dos recursos florestais.
Hoje há incentivos financeiros, diretos e indiretos, para compensar quem abre mão do direito de desmatar. Pagamento por serviços ambientais, crédito condicionado a normas ambientais são exemplos, ainda incipientes. Outros, como o Imposto Territorial Rural e o Plano Safra, com ajustes, têm potencial de virar o jogo. Tal pacote verde compensatório criaria uma “legião de produtores de chuva”, viabilizando a produção e a geração de energia hidrelétrica na região, que pode ser afetada pelas mudanças climáticas.
O Brasil se comprometeu a zerar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030. Continuar o desmate, legal ou não, é ilógico pelo viés ambiental ou pelo econômico, seja na Amazônia, seja no Brasil. Cortar árvores para produzir soa démodé e não nos ajuda a cumprir o prometido.
Não estamos propondo salvar um peixe ou uma árvore. Indicamos como nos preparar para um futuro de mais seca, mais calor e com menos água para plantar e gerar energia. Repensemos os planos de desenvolvimento do Brasil, para que nossas crianças tenham as mesmas oportunidades que nós tivemos.
Artigo originalmente publicado no Blog do Planeta, da Revista Época.