Brasil, Alemanha, Noruega, mais governadores dos Estados da Amazônia Legal, indígenas e representantes da sociedade civil brasileira se reuniram hoje no evento Amazon-Bonn, que acontece na Alemanha paralelamente à 23ª Conferência do Clima da ONU (COP 23).
O Amazon-Bonn amplia o debate sobre a Amazônia, com painéis temáticos que abordarão desafios e oportunidades para consolidação do desenvolvimento com proteção ambiental. Entre os assuntos em pauta, destacam-se financiamentos e convênios internacionais para proteção da floresta e do clima, controle de desmatamento e modelos produtivos sustentáveis. Na plateia, autoridades brasileiras e internacionais, representantes de agências de fomento, instituições financeiras, projetos empresariais com foco em sustentabilidade, organizações da sociedade civil, populações tradicionais e indígenas.
“Tivemos uma queda no desmatamento na Amazônia de 16%, e o desmatamento nas unidades de conservação federais caiu 28%. Ao mesmo tempo tivemos um aperfeiçoamento dos sistemas de controle do desmatamento, recuperação da floresta nativa, fortalecimento da fiscalização, atualização da lista dos municípios prioritários para o combate ao desmatamento. Porém é preciso ampliar os esforços e intensificar as ações rumo ao desmatamento zero em 2030”, afirmou o ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho.
Na ocasião, um acordo foi assinado entre a Alemanha e o Fundo Amazônia/BNDES, para uma nova contribuição de € 33,92 milhões para o Brasil, pela taxa reduzida de desmatamento na Amazônia em 2015.
Outro acordo foi assinado também pela Alemanha com o governo do Acre, no valor de € 10 milhões, repassados pelo kfW (Banco Alemão de Desenvolvimento) em pagamento por resultado na queda do desmatamento entre os anos de 2017 e 2020. Os recursos serão reinvestidos no Sistema Estadual de Incentivos aos Serviços Ambientais, prioritariamente na proteção da floresta e em benefícios para agricultores familiares extrativistas e povos indígenas. Na primeira fase desse projeto, o Acre recebeu € 25 milhões do governo alemão entre 2017 e 2020.
Já o governo de Mato Grosso receberá € 17 milhões, com recursos do BMZ, também por redução de desmatamento, num esforço de fortalecimento da estratégia PCI (Preservar, Conservar, Incluir), que o governo do Estado lançou na COP 21, em 2015. Mato Grosso e Acre também receberão recursos do Reino Unido, 23 milhões de libras para o primeiro Estado e 17 milhões de libras para o segundo.
“Para alcançar os resultados necessários, é preciso ação contínua. Liderança e parceria são a chave, principalmente entre governo, sociedade civil e setor privado. Além, claro, dos povos indígenas que têm um papel fundamental na manutenção das florestas”, disse o ministro de Meio Ambiente da Noruega, Vidar Helgesen. “O Brasil tem as ferramentas. O crescimento econômico pode caminhar junto com a conservação ambiental.”
O Amazon-Bonn substitui o Amazon Day, que já aconteceu em edições anteriores da COP e, no ano passado, foi realizado durante a 4ª Conferência Internacional sobre Desenvolvimento Sustentável, nos Estados Unidos. Nesta edição, ela foi estendida para incluir todos os nove membros do Fórum dos Governadores dos Estados da Amazônia Legal e do Fórum de Secretários de Meio Ambiente da mesma região, além de abrir espaço para que visões diferentes sobre o mesmo objetivo – uma economia de baixo carbono para a Amazônia, alinhada com as necessidades do século 21 e com as discussões climáticas.
“Este é um evento que tem simbolismo histórico. Pela primeira vez os governadores unidos vêm dizer ao Brasil e ao mundo sobre possibilidades, limites e compromissos. Afinal, homem e natureza tem de conviver em permanente construção, e não destruição”, disse o governador do Pará, Simão Jatene, que representou o fórum na mesa de abertura do Amazon-Bonn.
Em uma fala muito aplaudida, o cacique Raoni, de Mato Grosso, clamou pela união de todos, do Brasil e do mundo, em torno da proteção florestal. “Nossos netos estão vindo aí e precisamos trabalhar juntos pra preservar o ambiente necessário eles”, afirmou. “Eu falo com vocês, que são governadores e autoridades, que eu vejo o povo de vocês destruindo floresta, água, e isso é uma ameaça para o meu povo. Porque as populações indígenas também estão aumentado e precisam de recursos naturais. Se continuar o desmatamento como está, o calor vai aumentar e a humanidade corre risco. Por que está calor agora? Por que os rios estão secando agora? Essa é a pergunta que eu faço.”
O diretor-executivo do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), André Guimarães, representou a sociedade civil brasileira na mesa de abertura do evento. Ele destacou a responsabilidade conjunta – dos brasileiros e da comunidade global – no cuidado com a Amazônia, de forma a acabar com o desmatamento e a beneficiar as pessoas.
“Estamos em um período da história em que a palavra chave para estimular a preservação ambiental é inovação, e em diferentes frentes: comando e controle, para coibir a derrubada ilegal; identificação e destinação, para conservação dos 70 milhões de hectares de terras não destinadas na região; busca pela eficiência do uso do solo na Amazônia, para que possamos produzir alimentos sem derrubar mais; além da valorização da floresta em pé”, disse Guimarães. “Isso só acontece com determinação e integração de esforços entre diversos setores da sociedade, juntamente com cooperação internacional, e é para isso que estamos aqui no Amazon-Bonn.”
O evento acontece no Museu de Arte de Bonn durante todo o dia.