Nota: morre Paulo Nogueira Neto, que lançou a base da política ambiental no país

26 de fevereiro de 2019 | Notícias

fev 26, 2019 | Notícias

Morreu ontem, dia 25 de fevereiro de 2019, o maior ambientalista brasileiro. O biólogo Paulo Nogueira Neto, ou dr. Paulo, como era chamado, ou PNN, como se autorreferenciava, deixou aos 96 anos um legado que inclui as fundações da política ambiental no Brasil, contribuições para o conceito de desenvolvimento sustentável e a percepção de que, na defesa do ambiente, não há espaço para discussões partidárias ou transitórias, e sim para o conhecimento, a transparência e o diálogo.

“Perdemos um herói, não só do ambientalismo, mas do Brasil. Ele sempre manteve um campo frutífero de conversa entre diferentes opiniões, sem deixar de criticar de forma construtiva nossas percepções sobre o desenvolvimento”, afirma o diretor-executivo do IPAM, André Guimarães. “Que sua mensagem e sua voz jamais sejam esquecidas por quem trabalha neste campo, sejam pesquisadores, ambientalistas e gestores públicos.”

Especialista em abelhas nativas sem ferrão, dr. Paulo foi o primeiro secretário especial do Meio Ambiente, órgão criado em 1973 na esteira de críticas que o Brasil sofrera internacionalmente por ser contrário à proteção ambiental. Chamado para opinar sobre o decreto de criação do que, anos depois, viraria o Ministério do Meio Ambiente, ele foi convidado a assumir o cargo depois de duras críticas ao texto.

Nessa posição, criou espaço, regulamentos e órgãos que permitiram ao país incorporar os modernos conceitos de preservação, exercitando constantemente o olhar em longo prazo, do gestor público como servidor dos interesses da nação.

Em 1987, um ano depois de deixar a secretaria, participou da comissão das Nações Unidas que talhou o que é o desenvolvimento sustentável, descrito no relatório “Nosso futuro comum”. Nos anos seguintes, manteve-se como uma voz lúcida e recorrente para manter o Brasil na trilha da sustentabilidade, acompanhando de perto o avanço da sociedade brasileira em torno da proteção ambiental.

Como secretário especial, Nogueira Neto criou as primeiras unidades de conservação do Brasil: foram 26 estações e reservas ecológicas, totalizando 3,2 milhões de hectares. “Dr. Paulo estava sempre à frente de iniciativas ambientais contundentes, entre elas a luta pela criação de áreas protegidas, algo hoje, aparentemente, pouco valorizado pelos tomadores de decisão”, diz o pesquisador sênior do IPAM, Paulo Moutinho.

O IPAM agradece publicamente à gigantesca contribuição do dr. Paulo ao Brasil, e estende seus cumprimentos a seus familiares e amigos.

“Esse mundo novo e sustentado será o resultado, a meu ver, do efetivo cumprimento do mandamento do amor ao próximo, por todos os povos, culturas e religiões. Levará algum tempo, mas chegaremos lá.”

Paulo Nogueira Neto, 27 de fevereiro de 1987.

 

Para saber mais sobre Paulo Nogueira Neto:

Uma trajetória ambientalista”, livro que reúne extratos de seus diários da década de 1970 aos anos 2000.

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